SE É A MERA CURIOSIDADE QUE AQUI TE CONDUZ, DESISTE E VOLTA; SE PERSISTIRES EM CONHECER O MISTÉRIO DA EXISTÊNCIA, FAZ O TEU TESTAMENTO E DESPEDE-TE DO MUNDO DOS VIVOS.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

LEMAS DO AIKIDO

TESE PARA NIDAN Faixa preta 2 grau

Auno: Sidney Coldibelli:
Mestre: Wagner Bull


LEMAS DO AIKIDO

Em quase todos os treinos dos quais participamos, ao final deles, relembramos os Lemas do Aikido conforme ensinados no Instituto Takemussu. São 14 “mandamentos” que, em tese, regem o comportamento de todo aikidoísta.

Digo em tese, pois em um recente seminário realizado em São Paulo, durante o almoço em que estávamos sentados vários companheiros de treino em volta de uma mesa, ouvi, de um aluno na época faixa branca, a seguinte pergunta:

“- Você, que é faixa preta, consegue praticar os Lemas do Aikidô no seu dia-a-dia? Eu acho muito difícil por em prática estes ensinamentos, principalmente nos dias de hoje”.
A pergunta dele não me surpreendeu, pois durante alguns anos, no começo de meus treinamentos, eu também pensava assim. Considerava que quem conseguisse por em prática aqueles 14 itens seria um santo. E eu nunca me senti como um. Tampouco tinha vontade de sê-lo.

Manter a disciplina – Taí. Este é um que não dá para questionar. Principalmente por quem tem de perder uns 10 kilos e não tem força de vontade para tal. Mas, apesar disso, mantém uma certa disciplina em treinar com regularidade por mais de 12 anos. O que será que falta para que a gente possa ter a disciplina total? Bem, sabemos que ela é fundamental. Basta olhar para o que tem acontecido nos Jogos Para Panamericanos. Pessoas com deficiências das mais diversas, se superando para realizar coisas que nós, com nossa plena capacidade, sequer imaginamos em fazer.

Mas agora a coisa pega. Não se enervar, não se entristecer, não possuir sentimentos hostis... Como é possível manter uma postura como esta em um tempo como estes? Como não ter estes tipos de sentimentos quando vemos diariamente o noticiário sobre as guerras, violência e mortes. Sobre o que acontece na política, nos esportes aqui e em outros tantos locais? Só mesmo sendo alienado ou tendo sangue de barata. E, com certeza, eu acredito que o Aikidô não foi criado para produzir nenhum destes estados.

Ser compreensivo, ser tranqüilo, ser pacífico e manter a ética. Deus do céu. Do jeito que as coisas estão hoje, falar em compreensão, tranqüilidade, paz e ética, soa, para muitos de nós, inclusive para mim, coisas praticamente impossíveis de serem alcançadas. Principalmente a ética. Como então ser compreensivo com este estado de coisas?

Fazer amizade com todos e respeitar a Deus e as pessoas. Muito legal!!! Mas quem faz isso de coração? Hoje em dia procuramos ser mais e mais seletivos com as amizades que fazemos, quer seja por segurança ou por interesse. Quanto a respeitar a Deus, temos tantos que fica difícil escolher qual deles respeitar. Por outro lado, tem gente que respeita com tal intensidade que agride e até mata em defesa de seu Deus. Será que ele (Deus) realmente quer isto? Agora, quanto a respeitar as pessoas, basta andarmos na rua, ou mais especificamente no metrô, ônibus ou trens. O que se pode esperar de pessoas como estas? Como podemos respeita-las se ela própria não se dão ao respeito?

Ser Humilde e Ser Justo e Honesto. Em uma época onde a humildade é confundida com subserviência e a honestidade é coisa para trouxas, fica difícil manter este ensinamento vivo. Principalmente porque, diariamente temos exemplos de pessoas, sejam de qual for a origem e escalão na vida pública e privada, praticando todo o tipo de leviandade e desonestidade possível. Dá para lembrar uma música do Capital Inicial, chamada Fátima que diz: “Vocês se perdem no meio de tanto medo de não conseguir dinheiro para comprar sem se vender”.

Mas é no fechamento da leitura destes Lemas que vêem os grandes ensinamentos. Pois estes, na realidade, são as grandes ferramentas para que possamos atingir os anteriores. Através do entendimento destes dois é que vamos poder chegar a praticar todos os outros aí de trás.

Conscientizar-se que o Aikido é um dos caminhos que levam a Deus. Temos de novo Deus no contexto Aikidoísta. Qual Deus??? O meu, o seu? A nenhum destes. Em qualquer religião pode-se verificar que a tônica é mais ou menos a mesma, do tipo: Reze para Deus, mas amarre seu camelo. Ou seja, de nada adianta ter fé, se não nos colocamos a caminho. Lembra-me a estória do judeu que, diariamente ia até a sinagoga orar e pedia: “Senhor, fazei com que Jacó ganhe no loteria.” Depois de meses aborrecendo Jeová com sua persistência, Jacó, um dia, ouve uma voz de trovão ressoando pelo templo. “Jacó, eu ajudo, mas pelo menos joga”. Quando se diz que Deus fez o homem a sua imagem e semelhança, isto não quer dizer que Deus possa ser parecido com o Brad Pitt. Ou como Tiririca. Na realidade, somos pequenos deuses. Capazes de realizar tudo o que imaginamos e desejamos, afinal, basta olhar para e história da humanidade de ver o que o homem realizou de bom e ruim nestes milênios todos. Mas para que isso aconteça devemos nos despir de nossos preconceitos, das nossas amarras, de nossos grilhões que nos prendem às mesquinharias, mazelas e rancores que nos prendem a uma vida medíocre e sem sentido. Ao fazermos isto, nos reencontrarmos com nossa verdadeira essência, passamos a agir de acordo com a grande ordem do universo e passamos a fazer Kanagará Tamachii Haemasse. E vocês poderão perceber que a vida fica mais fácil, mais leve e mais doce. Uma vez, ao repreender um funcionário meu sobre um erro por ele cometido, recebi a seguinte resposta: Perfeito, só Deus. Realmente não dá para questionar sobre a perfeição, uma vez que todos somos imperfeitos e exigir isto de quem quer que seja é irracional. Todavia, a Excelência existe. E é isto que buscamos, ou seja, a possibilidade de fazer cada vez melhor.

Por último e nem por isso menos importante, Conscientizar-se que a prática do Aikidô é um caminho de autoconhecimento. Ao praticarmos o Aikidô aprendemos a nos conhecer e saber o quanto dos outros lemas não praticamos. O quanto de nossas crenças está alinhado com os pensamentos acima? O quanto já nos contaminamos por tudo que citei até agora. Sim, porque muitos de nós praticamos inúmeros descalabros diariamente e não nos damos conta. Não percebem o quanto somos estúpidos, arrogantes, soberbos, desonestos, injustos, desrespeitadores, entre outras barbaridades que comete. Durante a prática é muito comum, e isto já aconteceu comigo várias vezes, sermos obrigados a retirar uma máscara de hipocrisia que usavávamos constantemente e ver nossa verdadeira face, o seu verdadeiro eu. E muitas vezes nos envergonhamos dele. Mas, apesar da vergonha, percebemos que estavámos errados e que precisávamos mudar nossa forma de ser e que estava escondida atrás de uma máscara de empresário, pai, filho ou outra qualquer que fosse conveniente e que permitisse justificar seu uso. Na prática do Aikidô, as máscaras caem. Uma a uma, quando não todas de uma vez e a gente passa e se conhecer e a se corrigir. Aí então, temos a possibilidade de encontrar Deus e, conseqüentemente, praticar os outros 12 lemas.

Eu ainda, olha o ego aí de novo, poderia tentar agregar mais um lema nestes outros. Seria o Ser Grato. Uma vez, em um seminário de John Stevens Sensei, ele nos falou sobre as 4 gratidões.

Ser Grato a Deus. À Natureza. Aos nossos antepassados. aos nossos pais, e aos que nos rodeiam. A Deus por nos fazer existir. À Natureza por manter nossa existência aos pais pelos cuidados . Aos nossos antepassados por nos darem a base do que somos hoje. E aos que nos rodeiam por permitir que nos aprimoremos.

Concentro meus agradecimentos naqueles que me rodeiam. Dentro e fora do tatame. Em primeiro lugar os de fora do tatame, pois permitem que eu me dedique a treinar e me aperfeiçoar sem me aporrinhar. Um agradecimento especial à minha esposa Lúcia, sempre presente e companheira e as minhas filhas, naturais ou adotadas. Íris, que, entre outras tantas alegrias que me deu, acaba de me dar um neto, Luca. Eva, uma aikidoista latente, adormecida e que está sempre presente. Lia, a mais distante, pois hoje mora na Itália, mas está sempre presente de coração e a Amanda, a mais novinha e que eu encontrei no meio do caminho da vida para me ensinar a reaprender a ser pai.

Me cabe fazer, agora, um profundo agradecimento aos meus companheiros de armas. Àqueles que me ajudaram a chegar onde estou. Se hoje estou lendo esta tese agora, foi porque aprendi muito com eles. Se hoje fiz este exame, é porque muitos de vocês me carregaram nesse caminho, que às vezes me pareceu ser difícil demais de ser trilhado. Enumerar a todos seria impossível, mas alguns eu não posso esquecer. Ale, Miura, Rafael, Eduardo de Paula, Cláudia, Bala, Satie (estes dois últimos principalmente). Me ative em citar os Yudanshas, mas desde o mais novo faixa branca deste instituto até os faixas marrons merecem meu respeito, minha consideração e meu agradecimento.

Porém há uma pessoa muito especial que merece todos estes sentimentos de forma multiplicada. Ao Sensei Wagner por criar este espaço e permitir que possamos praticar a Excelência e termos a possibilidade de nos tornar pessoas cada vez melhores. E mais felizes.

A todos vocês

DOMO ARIGATÔ GOZAI MASTA
São Paulo, 18 de Agosto de 2007.

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