Acabamos de tomar conhecimento do “Santo Graal” sob a forma de uma Taça ou Cálice, no entanto das informações colhidas, verificamos que a representação do mesmo na forma de um “Caldeirão” é muito anterior à representação sob a forma de uma Taça ou cálice, o mesmo vem desde os tempos dos Celtas, com uma representação de cunho feminina. Porque não trazermos para os nossos leitores algo sobre o referido assunto?
Os Caldeirões
Muitos escritores notáveis mostraram a semelhança entre os Contos de folclores Célticos e as histórias do rei Arthur. Havia muitos caldeirões nos contos Célticos e alguns tiveram propriedades bem parecidas com as atribuídas aos do Graal como descrito nos contos arturianos. Um poema famoso, “O Preiddeu Annwn”, descreve o rei Arthur e seus homens arriscando-se no mundo dos criminosos Célticos para roubar o Caldeirão de Annwn mantido pelo chefe do Hades. O Caldeirão tem a habilidade para restabelecer a vida para os guerreiros mortos. Note isso na tradição Cristã; o Cálice sempre é levado ou é guardado por mulheres e tem a capacidade de restabelecer vidas.
Outro caldeirão, o Caldeirão de Awen tinha a capacidade de dar a todos o poder do conhecimento, se uma porção fosse preparada nele. Uma moça chamada Gwion foi escolhida pela deusa Ceridwen para mexer a poção. Ela derramou três gotas sobre os dedos dela e os pôs na boca. Ela ganhou todo o conhecimento. Também note que na lenda do rei Arthur, o Graal pode dar conhecimento. Muitos autores tentaram mostrar assim que os caldeirões célticos foram de alguma forma os percussores da imagem atual do Graal. O caldeirão do mito clássico alimentou, também como o “Graal” celta, todos que a ele recorreram para o seu sustento.
Isso, junto, com a derivação de alguns heróis arturianos, como Kay e Bedivere, uns dos celtas, foi explorado em muitos textos. O autor deseja mostrar que embora as derivações das lendas célticas sejam boas e populares em teoria, elas por nenhum meio explicam completamente os eventos e descrições dentro dos ciclos do Graal, nem explicam o interesse súbito da crença no mesmo.
Nos romances posteriores, o Santo Graal é uma relíquia cristã de poder maravilhoso. Conteve o cordeiro pascal comido na Ultima Ceia, e, após a morte de Cristo, José de Arimatéia com o mesmo havia colhido o sangue do Salvador quando preparava o seu corpo para o enterro. Mas antes de receber tal formação, ou seja, a de uma taça ou cálice, tinha sido o caldeirão mágico de todas as mitologias celtas.
Nas lendas Celtas encontramos, por exemplo, o Caldeirão Dagda (pai de todos os deuses irlandeses), no qual podia-se cozinhar a alimentação necessária para todo um regimento de guerreiros, foi chamado de “insecável”, pois todos que vinham a ele eram alimentados e ninguém saia insatisfeito. No mito gaulês dos Mabinogion, o mesmo aparece como o Caldeirão da Regeneração capaz de ressuscitar os guerreiros mortos. O Caldeirão Dagda tinha uma clava com o mesmo poder, com uma exterminava os vivos e com o outro ressuscitava os mortos.
Boann era a esposa do Dagda, dentre os seus filhos os mais importantes eram Brigit, Angus, Mider, Ogma e Bodd (o vermelho). Brigit foi uma deusa do fogo, da terra e da poesia. Brigit também era conhecida como a Minerva gaélica, também encontrada na Britânia como Brigantia, deusa tutelar dos Brigantes, uma tribo do norte, e no leste da França como Brigindo, a quem Iccavos, filho de Oppiano, fez uma oferenda dedicatória da qual ainda há registros (ver Rhys – Hibbert Lectures, I e II – “O panteão gaulês”). Os primeiros cristianizadores da Irlanda adotaram a deusa pagã no seu registro de santidade, canonizada obteve imensa popularidade como Santa Brígida ou Bride.Temos um outro caldeirão encontrado na Dinamarca que se chamava de Gundestrop, o mesmo foi confeccionado em prata dourada e era utilizado em cerimoniais, é proveniente do século I a.C.
O Caldeirão de Gundestrop
Encontramos na mitologia Celta uma série de outros caldeirões, como o de Brân, da Renovação, que foi dado pelo mesmo a Matholwch, detinha a capacidade de trazer o morto de volta à vida; o Caldeirão de Ogtyrvran (o gigante), do qual as Musas ascenderam; o caldeirão capturado por Cuchulainn de Mider, o rei da Cidade Sombria. Posteriormente uma tragédia veio a abater-se sobre Cuchulainn, quando em um duelo, matou seu único filho, sem saber quem era; bem como vários outros caldeirões míticos de menor importância.
Texto de: Walter Jorge - www.caminhodesantiago.com/walter_jorge.htm
Adaptações: Renis R.
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