SE É A MERA CURIOSIDADE QUE AQUI TE CONDUZ, DESISTE E VOLTA; SE PERSISTIRES EM CONHECER O MISTÉRIO DA EXISTÊNCIA, FAZ O TEU TESTAMENTO E DESPEDE-TE DO MUNDO DOS VIVOS.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

CREDO DO CRISTIANISMO - Parte 1.6

1. (*) No post anterior foram descritos os ciclos sétuplos do Rio Estige e a natureza dos mundos que as ondas da existência sucessivamente envolvem em sua corrente.

            Perséfone, a Alma Mundana, seguiu degrau após degrau, desde o ponto de sua descida à criação material, até que finalmente emergiu das moradas obscuras do Hades, como uma rainha coroada, para o dia de plena claridade.

            O triângulo inferior do Selo de Salomão – no qual todos esses processos estão simbolizados – tem tanto uma interpretação microcósmica como macrocósmica. Até o momento acompanhamos a evolução da alma do mundo no plano da natureza, passando de reino a reino, constantemente se aperfeiçoando em poder, faculdades e individualidade. Um grande sistema se desenvolveu dessa forma – um sistema repleto de ordem e razão, abrindo perspectivas de esplêndidas possibilidades, e ampliando indefinidamente o escopo do passado e do futuro da alma; mas, apesar de tudo, isso não passa de um brilhante panorama do progresso da Natureza; apenas um sistema de filosofia oculta; não uma religião feita para o espírito do homem; não uma mensagem Divina que fala ao mais íntimo de seu coração.


            2. Na interpretação do aspecto microcósmico do triângulo inferior deixamos o plano da Natureza e a esfera do Ocultismo e ingressamos no universo da Alma Huma – a região com a qual o místico está principalmente envolvido. Pois o terreno do Misticismo, embora paralelo ao do Ocultismo, transcende e supera esse último. Para ser um ocultista é suficiente conhecer o ser humano. Para ser um místico é necessário conhecer a Cristo. Esse último sacrifica todas as coisas, mesmo o próprio conhecimento, como se isso fosse possível, pela bondade. É somente no Catolicismo do Ocidente que esses supremos Mistérios, os Mistérios da Fé do Cristo, foram reconhecidos e explanados.

            3. Do mesmo modo que os mundos do aspecto macrocósmico do triângulo inferior, as estações dos mundos microcósmicos são sete. Elas representam um número igual de estados sucessivos da evolução interior da alma humana. E estão conectadas umas às outras por meio de seis estações intermediárias, representando as fases de transição da alma de uma estação para a outra.

            Cada estação é um ato específico da alma, demarcando um estágio definitivamente alcançado e realizado. Essas estações intermediárias são elos, denotando a passagem de cada um desses atos para outro. E todas são aspectos da vida “de Cristo Jesus”, a qual é a síntese da vida interior da alma santificada.

            4. O Misticismo é totalmente indiferente quanto aos elementos fenomênicos e históricos da religião, uma vez que ele os considera apenas como veículos e formulações de verdades espirituais. Assim sendo, o Misticismo não é afetado de nenhum modo pela crítica histórica ou científica.

            Daí sua divergência com a ortodoxia convencional. Aquele que segue as convenções tradicionais adora o pão e o vinho materiais do Sacramento. O místico considera esses dois apenas como símbolos, e adora o verdadeiro – posto que espiritual – Corpo e Sangue do “Cordeiro sacrificado antes da criação do mundo”.

            5. Mas embora desse modo tenha se elevado acima da necessidade de dar atenção aos aspectos históricos e externos da doutrina cristã, o Misticismo defende aquela doutrina como sendo absolutamente necessária, imutável e verdadeira, bem como essencial para a interpretação da história espiritual do ser humano. E também defende que ela se constitui num testemunho incontestável da perfeita razoabilidade e beleza da vida religiosa. Pois a evolução do universo no homem, que é atribuição do Misticismo interpretar, se constitui num paralelo preciso à evolução do universo na Natureza, que é atribuição do Ocultismo interpretar. Isso porque de acordo com o axioma Hermético: “Grande e pequeno, inferior e superior, externo e interno, todos têm uma única lei.

            6. Como temos até o momento acompanhado os passos de Perséfone, a Alma Mundana, e a temos visto evoluir através de sucessivos níveis de consciência, nas sete moradas sucessivas do mundo inferior; seguiremos agora os passos de Maria, a Alma Humana, associada aos Atos de seu Divino Filho e Senhor, o Cristo – os quais também são dela, por intenção e participação, visto que Cristo é o Filho da Alma, concebido através da co-operação de seu obediente livre-arbítrio com o Espírito Divino.

            Cada sacrifício feito pelo Cristo é igualmente dela; e dentro e através dela Ele age, sofre e dá a Si mesmo para Deus, pelo homem.

            Por essa razão, cada estação do ofício chamado de o “Caminho da Cruz” é, pela Igreja, acampanhada de uma invocação a ela cuja dádiva Ele é para a humanidade.

            Cada graça e benefício que recebemos de Cristo vem a nós através dessa mística Virgem. E, portanto, na contemplação dos Atos de Cristo a Igreja sempre representa sua mãe como estando presente, e em cada um dos Mistérios da Vida Divina a invoca e a glorifica. Não fazer isso e omitir ou ignorar “Maria” seria tratar o homem em separado de sua alma.

            7. O primeiro e o último dos Nove Portais ou Moradas do macrocosmo correspondem, no microcosmo, ao Rex (rei) e a Regina (rainha) do sistema Cabalista



            O primeiro representa o Mistério da Anunciação. Pois ele indica a exposição da intenção Divina com relação à questão da Criação, a primeira íntima comunicação do desígneo e do método da Redenção, revelada apenas para a própria alma pelo Anjo da Iniciação. Toda a série subsequente dos Mistérios é resumida e representada na saudação: –

            “Eis que conceberás no teu seio e darás à luz um filho, e o chamarás com o nome de Jesus.”
            “Ele será grande, será Filho do Altíssimo: e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, Seu pai.”
            “Ele reinará na casa de Jacó para sempre; e o Seu reino não terá fim.” [Lucas 1:31-33]

            8. Chegamos às Sete Estações da alma humana. A primeira, que corresponde ao primeiro mundo, ou nascimento da alma mundana no plano natural, é aquela do Nascimento do Cristo, ou acendimento da centelha Divina dentro da alma.

            Isso é representado como acontecendo à meia-noite, em uma caverna; pois o período é aquele de silêncio e abstração da alma, e recolhimento do mundo externo; e o lugar é o mais íntimo recôndito de seu ser, oculto sob o plano intelectual e suas operações.

            Ele está “envolto em panos”, como a própria alma está envolta na matéria, uma vez que está encerrada e apegada à mesma, e velada em símbolos signos, sendo em Si mesmo impronunciável; e Ele está “deitado em uma mangedoura” como sinal da profunda humildade do coração santificado.

            9. A estação intermediária que sucede à primeira é chamada a “Fuga para o Egito”. Ela representa a passagem entre o Nascimento e o Batismo, e siginifca o surgimento de Cristo desde as profundezas ocultas do coração – onde ele inicialmente aparece – para a vida externa do santo. Pois o Egito representa o corpo, de modo que a passagem por ele denota o efeito da regeneração interior na vida externa.

10. A segunda estação, a do Batismo, é o segundo grau de iniciação, e ocorre na idade mística de 33 anos – um perído que não tem relação com o tempo, mas que depende de realizações – a idade da maturidade espiritual.



            Não apenas o coração, mas também a mente é agora divinamente iluminada. O intelecto, personificado por João Batista, compreende o Filho de Deus, O consagra e O saúda como Redentor e Cristo. O intelecto não é a Luz, mas dá testemunho da Luz. E a Luz está acima de todas as coisas, estando no Princípio com Deus.

            Mas no mundo o intelecto é o primeiro manifestado, e por meio dele o Cristo é reconhecido. Ele é a “voz que grita no deserto” da simples mente humana. “Aquele que semanistará depois de mim tem precedência sobre mim”. Pois, embora a mente não seja o princípio mais elevado e mais profundo da natureza regenerada, é por meio dela que o Divino é apreendido.

            A Evolução se dá do inferior para o superior, donde é necessário ser intelectualmente desenvolvido antes de poder compreender e receber inteligentemente a verdade espiritual.

            A fé do místico deve estar embasada no conhecimento, e não ser fruto do consentimento mecânico ou do fervor ignorante, os quais não podem dar uma explanação racional e bem fundamentada de si mesmos. O lugar dessa segunda estação no Selo de Salomão está, portanto, no lado direito da Árvore do Conhecimento.

11. Mas a maturidade espiritual, quando assim alcançada, deve ser colocada à prova. Por essa razão a próxima estação intermediária representa a Tentação, ou provação, no deserto, no qual os apetites, os desejos e a vontade – ou, os sentidos, a mente e o coração – são um a um testados.

            Para que o iniciado seja regenerado e seja qualificado ao grau e nome de “Jesus” ele deve dar prova contra a tentação em todas as partes da sua natureza.

12. A terceira estação – que ocorre na intersecção da base do triangulo superior com o lado descendente ou direito do triângulo inferior – é aquela da “Crucificação”. Por meio disso simboliza-se a completa entrega a Deus de toda a personalidade do candidato. Isso marca a realização do terceiro grau de iniciação, quando, tanto na mente quanto no coração, o corpo é penetrado pela graça e “traz as marcas do Senhor” [Gálatas 6:17].

            13. O Cristo é agora “elevado da Terra”, ou natureza corpórea, pois a Crucificação é a Grande Renúncia, e por isso ela é chamada a Oblação do Cristo Jesus.

            As “Cinco Chagas da Cruz” são os estígmas que representam a vitória sobre os cinco sentidos, bem como a regeneração dos cinco sentidos, os quais se tornaram agora polarizados a um plano mais elevado e interior, possibilitando ao homem ter conhecimento das coisas Divinas.

            Esse ato é a consumação da iniciação no que diz respeito à humanidade racional. Daí a exclamação: Consummatum est” atribuída a Cristo nesse ponto. A “Morte”, que se segue, significa a total dissolução indispensável à reconstituição no plano superior, ou transmutação ao estado Divino.

            Essa completa dissolução e desintegração do homem natural liberta o Divino dentro dele, e o deixa livre para manifestar sua Natureza Divina. Essa é a estação inferior, o ponto mais baixo do triângulo inferior, a base da Árvore da Vida.

            O lado descendente à direita desse ponto é a linha da tristeza e do sofrimento. O lado que ascende dele, à esquerda, é a linha da alegria e do triunfo. Os gregos representavam o Estige, ou Rio da Existência, ao alcançar esse ponto de inflexão, como trazendo à luz quatro crianças, que são, respectivamente, o Zelo, a Vitória, a Bravura e o Poder; os quais, unidos aos poderes celestiais, derrotam os Titãs, ou forças elementais da Natureza que, assim subjugados, são eles mesmos os deuses do homem não-regenerado, ou inimigos e rivais do Divino. A conquistadora desses “gigantes” é Palas Atenas, a “Rainha do Ar”, que representa a contraparte, na razão superior humana, do Logos Divino. Ele é a virgem, ou razão pura das coisas mundanas.

            14. A parte do triângulo inferior que reside totalmente abaixo do superior representa o Vale das Sombras e da Morte, e a ela pertencem os três estágios da morte, sepultamento e estadia da alma no Hades.

            Indo além desse vale em seu caminho para “Salém”, a alma atinge o quarto grau de iniciação, e a quinta das estações, onde a natureza espiritual é afirmada e glorificada, e o dom final do poder é alcançado. Pois a vontade humana está agora unida à Divina, e “todo o poder no Céu e na Terra” é dado a ele; o poder de Deus torna-se o poder de Cristo, o Qual, como disse Paulo: “embora Ele tenha sido crucificado por meio da fraqueza, mesmo assim viveu pelo poder de Deus” [Corinthius: 13:4]. Essa união das duas naturezas investe a humanidade de Divindade, e demonstra que o homem, quando regenerado, é o filho de Deus; como Paulo diz, mais uma vez: “Deus, ressuscitando Jesus dos mortos, cumpre com o dito no segundo Salmo: ‘Tu és Meu Filho, neste dia eu gerei a Ti” [ Atos 13:33].

            15. Esse ato da Resurreição é, desse modo, o selo da iniciação espiritual, a manifestação do quarto e Divino elemento do reino humano. A reintegração e reconstituição daseidade humana de acordo com o padrão celestial está agora completa. O ouro alquímico emerge purificado e resplandecente da fornalha ardente, na qual seus elementos constituintes foram dissolvidos, segregados, sublimados e repolarizados. “E a forma do quarto [elemento] é como a do Filho de Deus.” O dia em que essa ressurreição ocorre é o “dia do Senhor”, um dia de triunfante regojizo, em distinção ao dia do Sabá, ou o dia do descanso.

            16. A estação intermediária seguinte é a dos quarenta dias de estadia na Terra, um período de transição que corresponde aos quarenta dias de jejum no deserto, sua contraparte na linha descendente do triângulo. Mas ainda que a harmonia entre o Divino e o humano esteja completa, e o Shekinah dentro do homem esteja desvelado e todo o seutabernáculo esteja preenchido da glória de Deus, ele está ainda “sobre a Terra”, ainda não “ascendeu ao Pai”.

            Com isso deve-se entender que, embora o último grau de iniciação tenha sido alcançado, e o homem tenha se aperfeiçodo em sua própria Seidade interior, e unificado com o Deus interno, ele ainda tem de ascender à união com o Deus externo – o Deus universal, a Divindade macrocósmica e onipresente – e misturar sua luz individual com a pura luz branca do Supremo. Portanto, do mesmo modo que no Mistério da Ressurreição Deus é glorificado no Filho do Homem, o Filho do Homem é glorificado em Deus no Mistério da Ascensão. “Pois o Pai é maior que o Filho.”

            17. Entre a sexta e a sétima mansões da Vida Perfeita se encontra a estação intermediádia da glorificação no Céu, um estado de perfeito repouso ao invés de um estado de transição, quando, tendo transcendido a condição de conhecer, a alma passa à de ser, e é tudo aquilo o que anteriormente sabia existir dentro de si como potencial.

E em seguida vem o Sétimo Portal manifestado, ou estação, a “Descida do Espírito Santo”, ou emanação dos efetivos méritos da alma santificada ao “mundo das causas”. Pois, de uma maneira mística, a alma ascensa se torna ela mesma criativa, e renova a face da terra. E, em suas respectivas gradações, os méritos do santo são eficazes para a redenção do mundo, sendo sua vontade unificada com a vontade Divina, de modo que o espírito emanado da alma aperfeiçoada não é outra coisa do que o próprio Espírito de Deus.

            18. Portanto, na sétima mansão da vida sagrada contempla-se o homem ascenso tornar-se, por assim dizer, um ponto de graça radiante, renovando os mundos por meio do esplendor da Vida Una que nele habita.

            Liberto dos liames da Forma e o Tempo, ele agora aparece como a causa de libertação para os outros. O Espírito que avança, através e a partir dele, exala a renovação sobre os lugares desolados da Terra, e assim os méritos do justo feito perfeito tornam-se para o mundo metas morais e energias determinantes, operando sua purificação e libertação. Assim é completada a Apoteóse do Ego humano, com seus quatro graus de iniciação e seus sétuplos portais de graça, dramatisados nos Atos do Senhor na Terra.

            19. Finalmente, ao deixar completamente o plano do triângulo inferior, alcançamos a segunda das Moradas Divinas, o supremo e último Ato de Cristo no reino celestial. Trata-se do Mistério do Jugamento Final.

            Na primeira dessas Moradas – a Anunciação – observamos a intenção Divina projetando o drama da grande obra, a obra da Redenção. Na segunda – o Último Julgamento – o trabalho consumado é revisado e pesado na Balança Celestial, a Idéia e a Realização são colocadas face a face, tendo em um dos lados o Anjo Gabriel, com seu lírio, e do outro Miguel, com sua trompeta e espada. Aqui a Virgem ajoelha-se com humildade e obediente expectativa; então seu Filho aparece em Seu trono, vitorioso e glorificado, julgando os vivos e os mortos.



20. Através deste Portal do Julgamento todos os atos e obras do santo devem passar. Nada deve ficar no Principium que não seja inteiramente Divino. A Idéia de Deus na Anunciação é o Alfa, em relação ao qual a Realização no Julgamento, e conseqüente Assunção, é o Ômega. Eles são o Rex e a Regina Cabalísticos. E ambos, Começo e Fim, Primeiro e Último, estão acima e para além dos mundos do Tempo e da Forma, pois pertencem ao Uno que senta no Trono da Mística Luz Branca, e cuja face a Terra e o Céu não conseguem observar.

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