SE É A MERA CURIOSIDADE QUE AQUI TE CONDUZ, DESISTE E VOLTA; SE PERSISTIRES EM CONHECER O MISTÉRIO DA EXISTÊNCIA, FAZ O TEU TESTAMENTO E DESPEDE-TE DO MUNDO DOS VIVOS.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

CREDO DO CRISTIANISMO - Parte 1.5



1. (*) O triângulo inferior é dividido pelas linhas em cruz da Árvore da Vida e da Árvore do Conhecimento, e também é dividido pela base do triângulo superior em sete estações ou mundos, representando as moradas da alma no universo comum ou objetivo. Essas moradas estão distribuídas em duas linhas, a primeira é descendente e a segunda ascendente, sendo que a série completa constitui a “Escada de Jacó” Cabalística.

            A linha que se dirige para fora, ou que descende, é centrífuga, e a que se dirige para dentro, ou que ascende, é centrípeta. A totalidade do lado direito do triângulo – aquele à esquerda de quem observa – é a estação do elemento masculino, ou “Adão”; enquanto aquele à esquerda, à direita de quem observa, é a estação do feminino, ou “Eva”.

            2. O triângulo superior, falando sinteticamente, representa o Espírito Santo, ou luz do sol celestial – a Inteligência Divina, “Binah”. Analogamente, o triângulo inferior, também sinteticamente considerado, é a Igreja Católica, que reflete esse sol, e por essa razão é denominada de lua. E Malkuth é o Reino. Mas quanto a isso, na sua forma plural, Malkuthtem uma significação dupla.


            No triângulo superior ele é o último dos dez Sefiras e representa o Reino de Deus no Monte Sião, ou Reino eterno nos Céus. Esse é o “mar” celestial no qual se firma o pé direito do Ser Divino, conforme descrito no Apocalipse.

            Em seu aspecto secundário – no triângulo inferior – Malkuth é o Reino de Deus na Terra, a “terra firme”, sobre a qual se firma o pé esquerdo do Ser Divino, conforme está descrito. Ele representa, desse modo, a Igreja Militante, ou o agregado de todas as almas que progridem. E apenas dessas almas que progridem, pois as almas em retrocesso – que por meio de uma vontade perversa seguem o caminho descendente da degeneração, ao invés da senda ascendente da evolução – não estão compreendidas na Igreja.

            3. A Cabala confere um lugar proeminente aos chamados sete reis de Edom. Eles são representados no Gênesis como sete antigos reinos que antecedem o estabelecimento do reino de Israel. E na Cabala eles são representados como sete mundos, criados antes daquele habitado pelo homem, mas incapazes de duração permanente, pois Deus não desce para habitar neles, uma vez que a Imagem Divina não é assumida neles. A humanidade que assume essa Imagem – ou seja, o homem aperfeiçoado – é chamada de Israel. E os sete reis ou reinos de Edom são as sete estações ou mundos planetários através dos quais a alma deve passar para alcançar a perfeição, tornando-se assim “Israel”.

            Esse estado é alcançado apenas quando – por meio da plena restauração e exaltação da alma à sua própria unidade com o Espírito – os princípios masculino e feminino estiverem em perfeito equilíbrio entre si.

            Esses princípios são chamados de Rei e Rainha, e são, respectivamente, a Idéia Arquetípica ou “Adão Kadmon”, que existia anteriormente à criação, bem como essa Idéia realizada na criação. E, como diz a Cabala no Book of Occultations (Livro das Ocultações) – “Até que o equilíbrio esteja estabelecido, e enquanto o Rei e a Rainha não olharem um para o outro, face a face, os sete mundos de Edom não terão permanência. Mas quando a Rainha aparecer em seu trono, então todos os sete reinos de Edom se reconstituirão em Israel e re-nascerão sob outros nomes. Pois tudo o que não é, tudo o que é e tudo o que virá a ser, é nascido do equilíbrio entre o Rei e a Rainha, olhando face a face um para o outro”.

            Essa é precisamente a condição descrita por São Paulo quando diz: “Quando aquilo que é perfeito chegar, aquilo que é parcial desaparecerá. Agora vemos como em espelho, e de maneira confusa, mas, depois, veremos face a face.” [Coríntios 13:11-12]

            4. Esses reis de Edom – Adão, ou Terra – são, portanto, uma representação oculta dos sete progressivos domínios, esferas, planetas ou estágios através dos quais a almapassa em seu caminho à realeza celestial, no interior e para além do plano terrestre, onde o homem perfeito se torna “Príncipe”, ou “Israel”, junto a Deus.

            É somente nesse estágio que a Vida Eterna é alcançada, pois somente como homem a alma finalmente conquista a imortalidade. Todos os estágios anteriores têm, na verdade, a potencialidade disso, mas eles são apenas preparatórios. A alma deve passar através deles e elevar-se acima de todos eles a fim de realizar seu destino Divino. Em razão disso, tem-se a evanecência dos sete reinos de Edom. Eles representam estágios rudimentares e embrionários no desenvolvimento do homem. E daí a declaração apocalíptica: “Os reinos desse mundo se tornaram os Reinos de Deus e do Cristo” [Apocalipse 11:15]

            5. A Bíblia diz que Esaú é Edom, e o pai dos reis de Edom. Agora, Esaú é o irmão de Jacó, cuja dinastia sucede a de Edom. Assim, Esaú é uma imagem da natureza corpórea e Jacó, da vida espiritual. E os degraus na Escada de Jacó são os sete reinos temporários de seu irmão mais velho, cujos domínios Jacó está destinado – ao conquistá-los – a suplantar e suceder. Ao fazer isso e alcançar o topo, o lugar do Senhor, Jacó se torna Israel, ou “Príncipe junto a Deus”.

            6. Em sua base esta escada toca o chão, e os anjos nela representam almas descendo para a encarnação, indo até mesmo, como diz a Cabala, ao mais baixo grau de densidade do universo – a matéria em seu estado mais denso – e ascendendo novamente ao Céu.

            Ao pé dessa escada, à noite, Jacó, a alma peregrina, está adormecida, tendo por apoio uma pedra, símbolo da matéria no ponto que alcançou. Como é o lugar de maior escuridão e separação de Deus, o local é chamado de Luza, ou separação.

            No entanto, a alma sabe que esse é o ponto de inversão na trajetória de sua peregrinação, e que daí em diante sua jornada é para o alto e “na direção do oriente”.

            A alma percebe que, mesmo no mais profundo abismo da matéria, não há separação real da vida e presença Divinas. E no próprio Vale das Sombras e da Morte o “bastão e cajado” [Salmo 23:4] – as Árvores da Vida e do Conhecimento, que são a Cruz de Cristo – a confortarão e a apoiarão.

            Daí segue-se a exclamação de Jacó ao despertar: “Realmente, o Senhor está nesse lugar. Esse lugar não é senão a casa de Deus e o portal do Céu. (...) E ele chamou esse lugar de Betel, o qual antes se chamava Luza”. [Gênesis 28:16, 19].

            7. A doutrina secreta, que é a única que pode glorificar e transfigurar essa morada sombria – o mundo material – e converter Luza em Betel, é aquela da qual toda a Bíblia é uma exposição. E é sobre a base dessa doutrina que, desde o começo dos tempos, todas as grandes religiões do Oriente e do Ocidente foram construídas – a doutrina do GilgalNeschamoth, ou da transmigração e evolução das almas.

            8. O nome Jacó é o mesmo que Iaco [Iacchos], o nome místico de Baco. E Iaco é o deus do Ordálio ou Provação, o líder das hostes de fugitivos e peregrinos, e gênio da esfera planetária. O termo Jacó também faz referência oculta à sola do pé, o órgão de locomoção, e o osso do pé era um símbolo proeminente nos mistérios de Baco.

            Em muitos dos mistérios da antiguidade uma escada, contendo sete degraus ou portais, era usada para representar os sete estágios da evolução da alma através do mundo da materialidade. Tanto os mistérios egípcios como hebreus apresentavam um oitavo e final portal, acima desses, que pertence ao triângulo celestial. Esse portal, no Gênesis, é chamado de “Fanuel”, que significa a visão de Deus, face a face. [Gênesis 3:24 e Êxodo 25:18-19] (*) Ao alcançá-lo, Jacó se torna Israel.

            9. Os mistérios gregos representam a existência pela imagem do rio Estige, a “filha” do Oceanus, ou água da eternidade, e chamada por alguns de “mãe” Perséfone, ou a alma, como o veículo por meio do qual ela nasce para o mundo inferior e é conduzida de casa em casa nas moradas de pouca luz.

            Ao representar o Estige como tendo se originado da “décima fonte” do Oceanus, ou água da eternidade, a representação grega corresponde à representação Cabalística, segundo a qual a existência se deriva do décimo SefiraMalkuth.

            Sete percursos são feitos pelo Estige, cada um dos quais inclui e forma um mundo ou estação. Durante essas rondas de evolução planetária, o Estige se torna a mãe de quatro crianças, que representam, respectivamente, as quatro divisões da natureza do homem: a emocional, a volitiva, a intelectual e a psíquica. Essas têm por pai o gigante Palas, ou força elemental, pois foi com a vitória sobre ele que Atenas passou a ser chamada de Palas [Atenas]. A palavra Estige significa odioso, e denota a natureza imperfeita da existência se comparada ao puro ser. Esse “Rio da Existência” é chamado de diversas formas, que incluem: Fluido Astral, a Serpente, e Lúcifer.

            10. Os sete estágios da existência constituem uma cadeia planetária, sendo que o termo planetário significa caminhada ou peregrinação. As moradas dos deuses, que pertencem ao triângulo superior, são nove em número e são chamadas de Esferas Fixas, sendo Divinas e imutáveis.

            Das estações planetárias ou mundos, quatro são sutis e três são densos. Das sutis, três estão na corrente descendente e uma, na ascendente. As sete são,respectivamente: a etérea, a elemental, a gasosa, a mineral, a vegetal, a animal e a humana.

            Elas não são lugares, mas condições, e na trajetória da alma nenhuma é deixada para trás, mas todas são carregadas com ela para dentro do homem, sendo, por assim dizer, uma vestida após a outra, e todas estando compreendidas no indivíduo aperfeiçoado. Pois todas têm participação na evolução da consciência.

            A consciência é simples ou indivisa até que o nível mais baixo ou mineral é alcançado, o qual se encontra na base da árvore ou escada da vida. Nesse ponto ocorre o “sono profundo” de “Adão”, assim como o de Jacó. A consciência, ainda indivisa, e, portanto, não envolvendo autoconsciência, no modo mais denso da matéria atingiu o seu mínimo. A partir desse ponto se inicia aquela reduplicação ou reflexão da consciência por meio da qual ela gradualmente passa à consciência do Ser e de Deus.

            11. Esse início ocorre na quinta estação, o mundo da natureza vegetal. Aqui, primeiramente, a alma torna-se coesa e constituída em uma individualidade distinta. Aqui a influência do triângulo superior – cuja intersecção com o triângulo inferior constitui essa estação – se faz sentir pela primeira vez. A partir daí a idéia de família começa a evoluir; nascimento, casamento e morte ocorrem através do despertar de uma consciência sensível, que responde aos elementos, mas não ainda aos pensamentos ou sensações e seus vários modos, tais como o amor e a tristeza. Esses atributos surgem apenas no sexto mundo, aquele da existência animal.

            É nesse mundo que a capacidade de “pecar” se origina, e o “pecado” torna-se pela primeira vez possível. Pois enquanto o indivíduo tem apenas a consciência simples da natureza rudimentar, ele não conhece outra vontade que não a Vontade Divina expressa na lei natural, e para ele não há melhor ou pior, mas tudo é bom.

            “Adão”, enquanto ainda está sozinho, não pode ser tentado, não é capaz de pecar, pois a mente sozinha não pode pecar; apenas a alma pode pecar. É pelo advento ou manifestação de “Eva” que se dá o conhecimento do bem e do mal; e é para ela, e não para Adão, que o tentador – quando por fim faz sua aparição – dirige seus ardis. O pecado de Eva não está nela mesma “comer a maçã”, mas no dar a maçã a Adão, pois isso constitui um retrocesso no caminho da evolução. Esse retrocesso se dá em relação ao ponto de polarização, ou Vida Una, que está centrada na alma, indo para trás ou para baixo, para a razão inferior. Pois o pecado consiste em um retrocesso voluntário do mais alto para o mais baixo.

            A “serpente”, que tenta nessa direção, é o ser astral ou magnético o qual, reconhecendo apenas a matéria, confunde o ilusório com o substancial. Cedendo a isso, a alma cai sobre o poder da natureza inferior, ou Adão: “teu desejo [de Eva] te impelirá para Adão, e ele te dominará” [Gênesis 3:16]. Como a esposa de  que ao olhar para trás converteu-se numa “estátua de sal” [Gênesis 19:26] – o sal é o sinônimo alquímico da matéria. Nessa sujeição da “mulher” ao “homem”, e os resultados terríveis disso, consiste a “queda” e “maldição” de “Eva”.

            O fato de que isso acarreta esses resultados mostra que tal sujeição não está de acordo com a ordem Divina, mas é uma inversão dessa ordem. A alma deve buscar sempre dirigir-se ao alto em direção à Vontade Divina, que é a do Espírito; e ao invés de buscar para baixo em direção à mente, deveria levar a mente para o alto junto com ela.

            12. Mesmo na sexta estação, a última dos mundos densos e concretos – e que corresponde ao sexto “dia” da criação do Gênesis – o homem é ainda apenas um homem em formação. Para alcançar a “medida e estatura do Cristo” [Efésios 4:13], e de homem potencial tornar-se homem real e perfeito, ele deve ingressar no sétimo e último mundo de evolução cabalística, o mais alto estágio da Escada de Jacó, que é o próprio limiar do Divino.

            Da mesma forma que no mundo primordial é encontrada a dualidade inicial: Prakriti e Purusha, matéria e força, não responsiva, não diferenciada, dotada apenas da consciência simples da natureza cumpridora das leis, assim também nesse sétimo estágio da humanidade aperfeiçoada é encontrada a derradeira dualidade, homem e mulher, ou Adão e Eva renovados, mente e alma.

            Esse é o mundo dos semideuses e heróis da mitologia grega, dos santos da cristandade, dos Budas do Oriente.Aqui o homem não mais é meramente um animal superior; a natureza do animal é eliminada; sentidos novos e mais sutis substituem os velhos sentidos; a iluminação Divina e o conhecimento transcendente fecharam as avenidas das paixões inferiores e do pecado. E abaixo disso está a cabeça da serpente enganadora, esmagada sob o pé da alma reabilitada, a nova Eva. Esse é o primeiro Nirvana, ou Ressurreição.

            13. Somente mais um passo, e o segundo Nirvana é galgado. “Fanuel” é alcançado e “Regina (Rainha) e Rex (Rei) olham face a face, um para o outro”. Em relação ao plano da terra e do tempo, o triângulo inferior é completamente transcendido; a seidade indissolúvel e a vida eterna são conquistadas; e a condição humana é elevada até Deus. Dessa forma é celebrado o casamento místico da Virgem Imaculada, ou Alma, com seu esposo, o Espírito Santo. Desse modo é rompido o jugo do aprisionamento de Adão; desse modo é para sempre revertida a maldição de Eva pela Ave Maria da Regeneração.

NOTAS


N.T.: Fanuel é o nome dado a um quarto Arcanjo no Livro de Enoch, além de Miguel, Rafael e Gabriel. Seu nome significa “a face de Deus” (Enoch 40:9).
            Fanuel tem sido identificado, entre outros, com UrielUriel, no hebraico “chama de Deus”, é um dos arcanjos da tradição rabínica pós-exílio, bem como de algumas tradições cristãs.
            Dos sete arcanjos do judaísmo pós-exílio, apenas três (Gabriel, Miguel e Rafael) são mencionados pelos nomes nas escrituras que gradualmente foram aceitas como canônicas. Os outros quatro, contudo, são nomeados no século II a.C., no Livro de Enoch capítulo XXI: UrielIthurielAmitiel e Baliel, que intercedem perante Deus pela Humanidade.
            Uriel é frequentemente identificado como o querubim que “permanece junto às portas do Éden com uma espada ardente”, ou como o anjo que “preside à tempestade e ao terror” (no Primeiro Livro de Enoch). No Apocalipse de Pedro aparece como o Anjo do Arrependimento. Em Vida de Adão e Eva Uriel é representado como um dos querubins referido no terceiro capítulo do Gênesis.
            Na tradição apocalíptica, é ele quem deterá a chave que abrirá o Inferno no Final dos Tempos.
            Na moderna angelologia cristã – ainda que de uma forma marginal – Uriel é identificado por vezes como Serafim, Querubim, Regente do Sol, Chama da Deus, Anjo da Presença Divina, Arcanjo da Salvação, presidindo sobre o Tártaro (Inferno). Em escrituras mais recentes é, mesmo, identificado com Fanuel – a “Face de Deus”. É descrito frequentemente como trazendo consigo um livro ou rolo de papiro, simbolizando a sua sabedoria. Uriel é ainda o anjo patrono das artes e foi descrito por Milton como o “espírito de visão mais arguta de todo o Céu”.

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