SE É A MERA CURIOSIDADE QUE AQUI TE CONDUZ, DESISTE E VOLTA; SE PERSISTIRES EM CONHECER O MISTÉRIO DA EXISTÊNCIA, FAZ O TEU TESTAMENTO E DESPEDE-TE DO MUNDO DOS VIVOS.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

CREDO DO CRISTIANISMO - Parte 1.2

Et in Jesum ChristumFilium ejus unicumDominum nostrumqui conceptus est de Spiritu Sanctonatus ex Maria Virgine
(E em Cristo Jesus, Seu único Filho, nosso Senhor; que é concebido pelo Espírito Santo, nascido da Virgem Maria).

1. (*) Este resgate do Credo para os dias de hoje é necessário para o seu entendimento esotérico e correto. Pois não há tempo pretérito nas coisas Divinas, uma vez que todos os eventos sagrados denotam processos e todas as pessoas sagradas denotam princípios, não tendo relação alguma com o tempo e a matéria, mas são eternamente presentes e operantes na alma.

            Caso a religião, de fato, dependesse da história, nenhuma fé teria qualquer chance de perdurar, dado que pouco podemos depender do registro dos eventos, mesmo estando próximos do tempo de sua ocorrência, e dado que com o passar do tempo a evidência dos eventos deve se tornar enfraquecida, e após um longo tempo se apagar.

            A religião, no entanto, é espiritual por sua própria natureza, e é direcionada para a alma, não tendo, portanto, nenhuma relação de concordância com o que é físico e histórico.

            2. Além disso, todos os eventos assim chamados históricos do relato Cristão são igualmente reivindicados por outras religiões como tendo ocorrido com seus respectivos heróis, um fato que demonstra que tais eventos foram geralmente vistos apenas como alegorias, modelos, ou representações dramáticas dos vários estágios da história espiritual de todos os homens.

            Junte a isso as múltiplas contradições irreconciliáveis contidas nos próprios relatos, e a natureza totalmente inacreditável de muitas das narrativas se forem vistas como físicas, e nos vemos condenados ao desespero se ainda estivermos forçados a depender dos relatos da história para a nossa religião.

            Mesmo se assim não fosse ainda restaria o fato de que nada do que ocorre no plano físico e externo do homem pode ocasionar sua salvação, uma vez que a mudança a ser feita deve ser dentro do próprio homem, e ser resultado da operação de seu próprio espírito, o qual habita em seu interior. Eventos físicos e processos espirituais jamais podem ser assemelhados uns aos outros.

            3. Ao insistir na significação esotérica como sendo a única verdadeira e de valor, longe de estarmos propondo algo novo, estamos apenas retornando ao uso antigo e original.

            É a aceitação do Credo em seu sentido exotérico e histórico que é realmente moderna. Pois todos os mistérios sagrados foram originalmente considerados como espirituais, e apenas quando eles passaram das mãos de iniciados devidamente instruídos para as de pessoas ignorantes e vulgares é que se tornaram materializados e degradados até o nível que encontram em nossa época.

            A verdade esotérica do segundo artigo do Credo pode ser compreendida somente por meio de um conhecimento prévio, em primeiro lugar, da constituição do homem e, em seguida, do significado dos termos empregados na formulação da doutrina religiosa.

            Essa doutrina representa um conhecimento perfeito da natureza humana, e os termos nos quais ela está expressa – “Adão”, “Eva”, “Cristo”, “Maria”, assim como os demais – denotam os vários elementos espirituais que constituem o indivíduo, os estados pelos quais ele passa e a meta que ele finalmente atinge no transcurso de sua evolução espiritual.

            Como disse São Paulo, “essas coisas são uma alegoria” [Gálatas 4:24]; e para compreendê-las é necessário conhecer os fatos aos quais elas se referem. Conhecendo esses fatos não temos nenhuma dificuldade em reconhecer a origem de tal representação, e de aplicarmos isso a nós mesmos.

            Assim, “Adão” é meramente o homem externo e mundano, ainda que no tempo devido desenvolva a consciência da “Eva”, ou da Alma – pois a alma é sempre a “Mulher” – e se torne um ser dual constituído de matéria e espírito.

            Como “Eva”, a alma cai sob o poder desse “Adão”, e tornando-se impura através da sujeição à matéria, gera Caim, que, representando sua natureza inferior, é referido como cultivando os frutos do chão.

(p. 98)
            Porém, como “Maria”, a alma reconquista sua pureza, que é referida como sendo virgem no tocante à matéria, e polarizando-se para Deus, torna-se a mãe do Cristo ou Homem regenerado, somente o qual é o Filho gerado por Deus [Filho Unigênito de Deus] e Salvador do homem, no qual ele é gerado.

            Por essa razão Cristo é tanto processo quanto resultado do processo. Assim sendo, ele não é, como se supõe comumente, “o Senhor”, mas “nosso Senhor”.

            O Senhor é Adonai, o Verbo, que vive eternamente nos Céus; e Cristo é Sua contraparte no homem. E nenhum Cristo na Terra é possível àquele em quem não há nenhum Adonai nos Céus.

            4. Toda a história espiritual do homem é, assim, compreendida nos dois dogmas da Igreja: o da Imaculada Concepção da Virgem Santa, e o de sua Assunção. Pois eles não têm relação com coisas físicas, mas denotam com precisão o triunfo e apoteose da alma, aquela glorificação e perpetuação do Ego humano individual, que é o objetivo e resultado da evolução cósmica, e consumação do esquema da criação. (1)

NOTAS

(96:*) N.T.: Essa numeração indica os parágrafos no original, em inglês.
(96:1) Resenha de Edward Maitland da palestra dada por Anna Kingsford, em 19 de junho de 1884, para a Sociedade Hermética, publicada em Light, em 28 de junho de 1884, p. 265, onde se afirma que “a palestra foi seguida por uma conversa de interesse fora do comum, na qual um grande número de membros e visitantes participaram, sendo o ponto principal da discussão a extensão em que as narrativas do Evangelho representam uma real história pessoal, e o grau de importância devido a uma personalidade histórica, se tal personalidade existiu.” Samuel Hopgood Hart (S.H.H.)
(98:1) Para saber mais sobre o assunto ver a Iluminação de Anna Kingsford Concerning the Christian Mysteries (A Respeito dos Mistérios Cristãos) na obra Clothed with theSun (Vestida com o Sol), Parte I, No. XLVIII – S.H.H.

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