SE É A MERA CURIOSIDADE QUE AQUI TE CONDUZ, DESISTE E VOLTA; SE PERSISTIRES EM CONHECER O MISTÉRIO DA EXISTÊNCIA, FAZ O TEU TESTAMENTO E DESPEDE-TE DO MUNDO DOS VIVOS.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

CREDO DO CRISTIANISMO - Parte 1.4

Credo in Spiritum Sanctumsanctum Ecclesiam Catholicam
(Creio no Espírito Santo, na Santa Igreja Católica)


1. (*) Dos dois triângulos que compõe o “Selo de Salomão”, o superior representa o mundo não manifestado do espírito puro e o conhecimento acerca dele foi reservado aos iniciados de um grau elevado – os eleitos, ou iluminados – e é o campo do Misticismo. O triângulo inferior, que representa o universo manifestado, é o terreno do Ocultismo.


mostrando os sete Mundos, Estações ou Moradas sucessivas da Alma Terrena; e representando o mundo manifesto, secundário ou derivado da criação ou geração.



    A parte central é um hexágono, que é dividido verticalmente e horizontalmente por duas linhas formando uma cruz, as quais são chamadas,respectivamente, Árvore da Vida e Árvore do Conhecimento.

A porção inferior do hexágono, que corresponde ao triângulo inferior, é chamada de “Templo de Salomão” e é a esfera da atividade masculina. A parte superior, que corresponde à Morada de Adonai, o Senhor, é a esfera do elemento feminino, a Inteligência, que é chamada na Cabala a Filha, a Casa da Sabedoria, a Face do Sol.


mostrando as nove Esferas Fixas ou Moradas dos Deuses (Principados ou Potências). E representando o mundo não manifestado e primário da emanação. Incluindo Malkuth (Manifestação), a figura representa a Árvore da Vida Sefirótica.


            Na compreensão intelectual e aplicação espiritual do significado desse hexágono, com suas atividades masculinas e femininas indissoluvelmente mescladas, reside o segredo e o método místico. Com relação a isso a Cabala diz: “Quando o santuário é profanado, quando o homem habita longe da mulher, então a serpente começa a erguer-se,e, então, pobre do mundo! Em tais dias assassinos e torturadores nascerão no mundo, e os justos serão retirados dele. Por quePorque o homem está separado da mulher”.

            2. É o reconhecimento desse caráter dual da Natureza, do feminino [ou mulher] espiritual como complemento e coroamento do masculino [ou homem] espiritual, que constitui a melhor sabedoria e a suprema glória da Igreja Católica e explica sua hostilidade intransigente à Ordem da Francomaçonaria; pois esse sistema representa a perpetuação do judaísmo exotérico, na medida em que está relacionado exclusivamente ao triângulo inferior e à construção do “Templo de Salomão”, com a exclusão da parte superior, a esfera da “mulher”, da “cidade que veio dos Céus”, a Nova Jerusalém, ou cidade de Deus.

            O conjunto todo, desde o topo até a base, está unido pela linha vertical da cruz, chamada Árvore da Vida. A linha horizontal é chamada Árvore do Conhecimento, e o Bastão de Adonai, com o qual a cidade sagrada do Apocalipse é medida.

            3. Ao triângulo inferior pertencem os mistérios menores, aqueles da evolução natural. Esses foram expostos nos Mistérios Eleusinianos, sob a parábola do Rapto de Perséfone, que representa a alma do mundo caindo das moradas celestiais para a materialidade, e tornando-se sujeita ao Carma ou Destino, personificado por Hécate.

            As moradas da alma representadas no triângulo são sete em número (ver Fig. p. 104). As moradas dos Deuses, representadas no triângulo superior, são nove (ver Fig. p.105). O inferior representa o mundo da geração; o superior, o mundo da emanação. Cada triângulo tem uma significação macrocósmica e uma microcósmica; pois tudo que está na natureza está igualmente no homem. De modo que o “Selo de Salomão” é ao mesmo tempo a síntese e a chave do universal e do individual.

            4. Ele tem doze portais, ou significados, variando de acordo com o plano em que é examinado. Em seu significado mais amplo, o triângulo superior representa o espírito; o inferior, a matéria. O superior é a eternidade, o inferior, o tempo. O superior é Deus, o inferior, a Natureza. O superior é o não-manifestado, o abstrato, o incriado, o absoluto, o primário, o real. O inferior é o manifestado, o concreto, o criado, o relativo, o derivado, o reflexo. O superior é o Céu, o Monte Sião, o Espírito Santo. O inferior é a Terra, “Jerusalém”, a Igreja Católica. Pois, como diz a Cabala: “O Espírito Santo, ou Espírito do Deus Vivo, é a substância do Universo, no qual cada elemento
(p. 107)
tem sua fonte primordial. Esse Espírito é Inteligência. E é através dele que as marcas do Pensamento Divino se repetem novamente em todos os mundos sucessivos, de modo que tudo que é, tanto no Céu como na terra, se mostra como a expressão de um único desígnio.”

            5. Na Divina Inteligência, Binah, estão compreendidos os sete Elohim, ou Espíritos de Deus. Esses formam duas sucessões de princípios, respectivamente masculinos e femininos, os quais, com as três Pessoas da Primeira Trindade [KetherChochmah e Binah], constituem os dez Sefiras ou emanações Divinas do En-Soph ou Ser Original.

            O lado direito do triângulo superior representa o princípio masculino, cabalisticamente chamado de Jaquim, e o esquerdo, o feminino, chamado de Boaz. O triângulo como um todo constitui o Adão-Kadmon, ou homem arquetípico. E no triângulo inferior os princípios masculino e feminino são representados por Adão e Eva.

            6. O nome cabalístico do décimo Sefira, que é representado pelo ângulo inferior do triângulo inferior, é Malkuth, que, em seu aspecto mais elevado, significa a Igreja como Noiva ou Esposa do Espírito Santo, e de seu reflexo do Divino, no lado superior, é chamado de Lua, e também de Espelho.

            No seu aspecto inferior Malkuth representa a esfera de Hades, a esfera das almas que, estando ainda atadas pelos elementos inferiores, são referidas como estando “aprisionadas” e “abaixo do altar de Deus”. Por conseguinte, a porção superior do hexágono denota a Igreja celestial e triunfante; a porção inferior denota a Igreja militante; e a parte do triângulo que se encontra abaixo dessa, a Igreja sofredora ou “no purgatório”.

            7. Esse décimo Sefira, ou Malkut, é também chamado de o Reino. Ele de fato representa a alma em todos os seus aspectos, universais e individuais. Como o Reino ideal, ou Igreja de Deus no Céu, Malkut é todo o bem. “Tu és toda bela, Ó meu amor”, diz o Rei Divino (nos Cânticos), dirigindo-se à Sua esposa celestial, “e não há uma mácula em ti”.

            Assim, a Cabala fala de Malkuth nesse aspecto como a “Rainha”, e a ela atribui todos os títulos familiares a nós na Litania mística da Virgem Santíssima: “Rainha do Céu”, “Rainha do Amor”, “Rainha das Vitórias”, “Rainha da Glória”, “Casa de Davi”, “Arco da Aliança”, “Porta do Céu”, “Virgem de Israel”, “Templo do Rei” e assim por diante.

            8. Para essa “Rainha” o Espírito Santo é o “Rei”. Ambos estão contidos e emanam de En-Soph, ou Ser Original – o Espírito como pensante, a alma como o pensamento.

            9. As representações herméticas ou egípcias, e as gregas
(p. 108)
desses arcanos estão tão completamente em concordância com a representação hebraica que é impossível decidir de qual delas a teologia mística católica foi retirada.

            Os mistérios gregos possuem duas partes: os maiores e os menores, e representam, respectivamente, os segredos do triângulo superior, com a difusão do espírito na vida psíquica, e a passagem da alma através das esferas do Hades, ou mundos da criação e da evolução.

            As catacumbas de Roma oferecem evidência de que os primeiros Cristãos compreenderam plenamente a natureza católica da sua religião e sua derivação dos mistérios gregos de Dionísio e Orfeu. A fragmentação e o espalhar dos restos mortais de Dionísio pelos Titãs representou, em um aspecto, a distribuição da vida Divina una entre as forças elementares da natureza com o propósito da criação de almas. E, em outro aspecto, representou o perigo incorrido pelo afastamento da parte espiritual do homem em relação à sua natureza inferior, quando a mesma não está dominada.

            10. A história de Noah ou Noé, um termo bem parecido a Nous, mente, é um mito Dionisíaco ou Báquico. O vinho do qual Noah é descrito como tendo sido o primeiro produtor, corresponde ao “vinho novo de Dionísio”, o qual, sendo o Deus do planeta, esparge seu espírito, ou “sangue”, para a humanidade, e é chamado de o “Salvador dos Homens”, o “Filho Único Gerado”, o “Nascido Duas Vezes”.

            Seu nascimento correspondeu àquele do sol e, por conseguinte, ao do Cristo. E foi em Sua honra como “Deus do Vinho” ou Supremo Espírito da Terra, que os frutos e os ramos de suas plantas foram usados na celebração do início do ano novo. Baco significa uma frutinha, como a uva do monte [berry].

            11. Em resumo, nas “Orgias” desse Deus – cujo nome místico é Iaco [Iacchos] – é revelado por meio de uma série de representações, todo o arcano [segredo] relacionado às cláusulas do credo que aqui estão sendo consideradas. Ou seja, a emanação do Espírito Santo nos mundos inferiores, e a distribuição por toda a vida da Razão superior, representada por Noah, como o plantador do Vinhedo, ou vida sagrada dentro da alma.

            Esses mistérios são complementados e completados por aqueles de Demétrio, que simboliza o descenso para a Matéria de Perséfone, Psique ou Alma, em cujos mistérios são revelados a evolução e o progresso através dos vários planos e modos da existência, do Ego individual consciente, até que, aperfeiçoado através do sofrimento ou experiência, ele é finalmente libertado da matéria e retorna à sua morada celestial.

NOTAS

(104:1) Resumo feito por Edward Maitland da palestra dada por Anna Kingsford, em 17 de julho de 1884, na Sociedade Hermética, e publicado em Light, 26 de julho de 1884, pp. 302-303.
            O capítulo em The Life of Anna Kingsford (A Vida de Anna Kingsford) que oferece algumas das “Meditações sobre os Mistérios” de Anna Kingsford traz consideráveis explanações adicionais sobre assuntos muito profundos, tratados nesta e nas duas palestras seguintes. (ver Life of Anna Kingsford, vol. II, pp. 173-184). S.H.H.
(104:*) N.T.: Essa numeração indica os parágrafos no original, em inglês.

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